domingo, 21 de junho de 2009

Vida e Morte

Em memória da Dona Moema. Dedico à família que sofre a sua perda.
O mistério da vida apenas se pode compreender através do mistério da morte. É a morte que nos faz perguntar pela vida, que nos mostra a graça do amanhã. Fosse a vida sempre presente, ininterrupta, tal qual os bens em excesso na natureza, seria de pouco valor. A vida nos é tão cara que evitamos pensar na morte, porque seria um peso insuportável a percepção de que uma linha tênue nos separa do fim da nossa história. E por isso nos entretemos, muitas vezes, e por isso nos escondemos no preenchimento desordenado do tempo, nos divertimentos constantes, no entorpecimento da nossa mente. Tudo para não pensarmos na vida; tudo para não pensarmos na morte.
Diante da morte nos igualamos em nossas diferenças de raça, condição financeira, profissão... Talvez o que possa nos distinguir seja a força da fé: conhecemos o homem ou a mulher de fé diante do evento capital, nosso ou das nossas pessoas queridas. Porque ali, naquele momento definitivo, em que a vida encerra o seu ciclo, podemos nos perguntar sobre o seu sentido, sobre o porquê, sobre o para onde vamos... Acaba-se tudo aqui? O que vivemos, o que pensamos, o que fizemos, o que sonhamos? Tudo termina naquele instante em que as luzes se apagam?
O mistério da morte perturba e segue a humanidade em sua história. E o mais importante evento da civilização ocidental é justamente a morte: a destruição de Cristo na cruz. O símbolo da morte passou a ser o símbolo da fé, da vida, do sonho. Pela ressurreição, descobrimos que ela pode ser vencida, que o Filho do Homem desceu à mansão dos mortos para a todos cristianizar, é dizer, glorificar em sua assunção aos céus. A humanidade é divinizada Nele e por Ele. Ele assumiu a nossa humanidade e deu-nos a sua divindade. E o cristão passou a ver a morte como o fim para um começo. A morte passou a ser esse doloroso romper para um encontro pessoal com Deus. Por isso Santa Tereza dizia: "Morro porque não morro!" ("Vivo sem viver em mim / E de tal maneira espero / Que morro porque não morro.")
E por fé, pelo desejo de encontro pleno com o Pai, São Jão da Cruz anota as palavras de Santa Tereza, e diz de modo poético e místico:
2. Esta vida que aqui vivoÉ privação de viver;E, assim, é contínuo morrerAté que viva contigo.Ouve, meu Deus, o que digo,Que esta vida não a quero,Pois morro porque não morro. A morte, para quem tem fé, não tem a última palavra, não impõe o fim sem sonhos, sem conseqüências, sem alternativas. A morte é dolorosa, rompe os vínculos com a nossa história, tal qual a conhecemos, mas abre as portas para uma nova história de amor, de encontro, de plenitude. Por isso, diante da morte, choremos de saudade, da perda do convívio, da ausência sentida; mas sem desespero, sem desesperança, porque a luz brilhará, porque Deus se fez homem e morreu por nós, para dar sentido à morte eà própria vida: ele é o nosso destino, o nosso caminho, a nossa verdade, a nossa vida, a fonte de esperança e salvação!
Fonte: http://adrianosoares.zip.net/arch2009-04-16_2009-04-30.html

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