domingo, 19 de julho de 2009

A Religião no seu sentido Original

A Religião no seu sentido Original
Hélio Meireles Gonçalves

Aristóteles já dizia e toda pessoa tem a convicção que o homem tem o desejo de conhecer, o homem é um sujeito por natureza perguntador . Mesmo independente de sua utilidade, o conhecimento se busca com voracidade. O sujeito do filosofar é o homem (grifo meu). O pensar é busca do encontro do homem com o mundo, entre o pensante e o pensado. O pensar tem compromisso com a realidade, ou melhor, “Penso, logo existo”. Quer-se saber o que acontece; ouvir relatos de outros; pôr-se a par das novidades... O conhecimento agrada por si, mesmo que seja para matar a curiosidade. Ele quer ler no dado imediato “a arquitetura secreta do LOGOS”, ou seja, ele é a reflexão com base na razão (grifo meu). “A inteligência vai ao ente e a Deus por uma espécie de fototropismo espiritual (Maritain)”. Não encontra repouso senão na verdade. Poe-se acento no conhecer. O desejo de conhecer é natural enquanto busca ininterrupta. O acento cai no desejo. Quer-se saber sempre mais e melhor.
Há, por isso duas tendências quanto ao desejo de conhecer: 1º No Sentido Ontológico, como inclinação essencial da inteligência, ou como alienação do ser-do-homem que deve sair de si mesmo. 2º No Sentido Gnosiológico, dentro de sua finalidade apresenta duplo aspecto: a) como valor em si, conhecer por conhecer ou se quisermos; b) conhecer por curiosidade ou conhecer para a prática. Os dois aspectos não se excluem, mas constituem como que uma finalidade do conhecimento (GRINGS Dadeus, 1985).
O filósofo procura pesquisar o ser, um nível anterior a seus modos de aparecimento e anterior as categorias de nosso conhecimento e de nossa expressão. O caminho para o caminho filosófico é a experiência e a reflexão. A filosofia surge da admiração e esta brota da curiosidade humana, sobretudo a partir das questões antropológicas Quem sou? De onde vim? Para onde vou? (grifo meu) O homem tem profundamente um amor pela verdade. Por isso deseja saber o porque das coisas e investiga suas causas. Deste modo, é a própria vida no seu encontro com a realidade.
“O ser humano é um projeto infinito. É um ser de abertura. É um ser concreto, situado, mas aberto. É um nós de relações, voltado em todas as direções. Um projeto que não encontra neste mundo o quadro de sua realização. O ser humano vivenciando-se como projeto infinito, encontra-se finalmente, um Sujeito igualmente infinito, o seu conatural. Entretanto, é somente na sua liberdade que ele o faz, e só quando decide a isso, sem nenhuma imposição. Portanto, a transcendência se dá no encontro com as pessoas. Por exemplo: você está numa crise existencial, sem rumo, e encontra alguém que tem palavras seminais, que lhe acende uma luz, que coloca a mão no seu ombro, que aponta o caminho. Não como o mestre, que diz “vá o caminho é por aí”, mas despertando o mestre escondido em você e ajudando-o a definir o caminho de sentido. Cada caminho é um caminho para a fonte. Por conseguinte, você tem uma experiência de transcendência” (BOFF Leonardo, 2000 pp.36-39).
Destarte, o homem além de ser um ser perguntador por natureza é, também, um animal consciente, quando criança toma consciência da sua existência, especialmente nos 3 anos de idade. Ela descobre que não existia e, agora dar-se conta que existe; logo em seguida compreende que é um ser dependente (relativo). Não se contenta com a argumentação dada pela mãe e, toma consciência que a existência não está nela e, conseqüentemente precisa de um ser independente (que não é igual a ele) para se relacionar positivamente ou negativamente Este ser numinoso é o Ser Absoluto (grifo meu).
Deste modo, o homem é um ser com capacidade racional de descobrir, atribuir, dar e criar a razão de ser, o sentido, o valor e o porque de tudo, cuja base é a consciência. Neste sentido, o racional não tem limites (grifo meu). A hermenêutica filosófica da religião é a busca do sentido, da razão de ser, o valor do porque das coisas. Se um sujeito perscrutar outro sujeito da seguinte forma: - Você pode me questionar de tudo, menos de Deus. Certamente, indagará ao que está fazendo, formulando tal proposição: - Por que, não posso perguntar sobre Deus? (grifo meu)
Assim sendo a religião é uma escolha do homem. Conforme Georg Schwikart, autor do “Dicionário Ilustrado das Religiões”: “A religião é difícil de ser definida, já que está presente em todos os tempos e em todas as culturas, sob as mais diversas formas”. E continua nos acrescentando: “Religião tem a ver com as questões fundamentais do homem: Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? São questões a respeito do transcendente, do divino, do sagrado (oposto de profano). A origem do termo religião tem várias explicações, sobretudo, na tradição hebraico-cristã, cujo termo abrange como conceito o vocábulo latino religare que designava religar, reatar de novo, isto supõe-se, que houve uma ligação do Ser Absoluto com o homem, depois um rompimento dessa relação entre o Absoluto e o homem e, finalmente uma re-ligação. Entretanto, esse vocábulo não transmite a originalidade do termo. “Por Religião (Religere= re+eleger= reeleger) entende-se o relacionamento do ser consciente, dependente com o Ser Absoluto, na qual é independente, visto que, a criança na fase infantil dar-se conta que existe e, consequentemente se descobre como um problema, algo que precisa ser explicado que pode ser desdobrado em três questões: Donde vim? Quem sou eu? Para onde vou? A origem da Religião, sobretudo, está na consciência de sua existência. Logo, tudo o que não é consciente não é próprio do homem. É uma constatação da idade humana”. Neste sentido , o vocábulo “relegere” ou “religere” elucidado por alguns pensadores, na qual significa reler, observar conscientemente, no seu sentido original vale para todas as religiões existentes e as que virão a existir (grifo meu). A religiosidade se refere basicamente ao sentimento que se tem em relação a algo superior. A sede do sentimento religioso está no coração do ser humano. Citando Otto, encontraremos na experiência mística, principalmente na religiosidade intrínseca esse parecer filosófico:“O homem afunda-se e dissolve-se no seu nada e na sua pequenez. Quanto mais se descobre, clara e pura a seus olhos, a grandeza de Deus, tanto melhor reconhece a sua própria pequenez. O divino está acima da razão, o mesmo se dá com os instintos, que estão num nível mais abaixo da razão. Portanto, um Deus compreendido não é Deus”.
A verdadeira Religião é aquela que é sustentada por duas plataformas: A unidirecionalidade (única direção) – O ser humano deve “amar de graça”. É um amor gratuito, sem interesse nenhum. Não cobra absolutamente nada. Só pode amar de graça quem é perfeito. Na medida em que o indivíduo louva o Ser Absoluto, esperando uma retribuição, ela se limita, diminui o Ser Absoluto. É pensar pequeno. O amor é liberdade. A onidirecionalidade – É amar a todos, por exemplo o pagão, muçulmano, cristão. O amor não é seletivo. A ausência de amor é o inferno, enquanto que a presença de amor é a eternidade. A única maneira de salvação do sujeito é a identificação ou imitação do Absoluto (grifo meu).
Quero deixar presente nesta minha constatação um pequeno fato acontecido numa conferência de mesa-redonda, cujos debatedores eram Leonardo Boff e Dalai-Lama, figuras muito influentes na área da espiritualidade: Certa vez, Leonardo Boff perguntou a Dalai-Lama maliciosamente: “Santidade, qual é a melhor religião?” Leonardo Boff esperava que ele dissesse: “É o budismo tibetano” ou “são as religiões orientais, muito mais antigas que o cristianismo”. Segundo Leonardo Boff, o Dalai-Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso e olhou bem nos olhos dele, o que fez com ele desconcertasse um pouco e afirmou: “A melhor religião é aquela que te faz melhor”. Leonardo Boff interrogou novamente sua Santidade Dalai-Lama: “O que me faz melhor? E ele respondeu: “Aquilo que te faz mais compassivo, aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião”. Portanto a Religião é a relação das pessoas limitadas com o Ser Pleno.

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